Gosta de dizer que nasceu em 1974, o ano da revolução. Desde a adolescência, altura em que usava uma crista punk feita com sabão, que Nuno Duarte é Jel. A sua receita ácida de humor politicamente incorreto, provocação física e alguma música parece ter encontrado, em 2011, o momento certo para brilhar. Mas nem sempre o vencedor do Festival da Canção teve as luzes da ribalta do seu lado.

Onde acaba Jel e começa Nuno Duarte, é complicado arriscar. O homem que já tentou candidatar-se à Câmara de Lisboa (com uma única proposta: fazer dos jardins da cidade hortas para o povo) e que ganhou o Festival Alternativo da Canção, de Fernando Alvim, parece nunca despir a personagem “anarco-comodista” que, em 2011, o guiou à vitória no Festival da Canção. Do seu passado remoto sabemos apenas que ganhou a alcunha de Jel aos 14 anos, pela crista de punk feita com sabão azul e branco (e não com gel); que o seu avô, “um grande comunista do Barreiro”, chegou a estar preso, que a sua trisavó era a empregada número 3 da CUF (“Passou 40 anos agarrada a um tear sem ter direito a férias”, revelou em 2009 à Focus). Poderá não ser suficiente para que todos o levem a sério, mas o momento nunca pareceu tão propício ao prosperar da sua proposta de “loucura e violência surreal”, como descreveu à FHM. “Se há um papel que assumimos é o de espevitar, o de agitar”, admitiu em 2006 ao Diário de Notícias. Palavras proféticas: “Um bocado agora, muito mais no futuro”.