“Tens cara de baixista”, terá dito Crosby a Joaquim Pinto. No mês seguinte, Joaquim Pinto comprou um baixo e fundou, em conjunto com Miguel Pedro e Adolfo Luxúria Canibal, os Mão Morta. Braga, cidade dos arcebispos e bastião por excelência da direita ultra-conservadora, via assim nascer, por ironia do destino, uma banda cuja postura viria, ao longo dos anos, a afrontar os valores morais e políticos de uma sociedade culturalmente atrasada e na ressaca do salazarismo. Mas a verdade é que a cidade de Braga tornou-se, no início dos anos 80, palco de uma intensa agitação cultural. Afinal, por força da Universidade do Minho, aí sediada, Braga era, e continua a ser, uma das mais jovens cidades do país, em termos de população.
O concerto de estreia dos Mão Morta teve lugar no Orfeão da Foz, no Porto, a 12 de Janeiro de 1985. Dois meses mais tarde entra para a banda o guitarrista Zé dos Eclipses, passando Miguel Pedro para a bateria. Em Novembro, os Mão Morta saíram do 1º Concurso de Nova Música Rock, do Porto, com o quarto lugar, atrás de Bramassaji, Entes Queridos e AF Gang. Poucos dias depois, davam a sua primeira entrevista, no DN, a Fernando Sobral, para quem os MM eram “indiscutivelmente a melhor banda portuguesa do momento”.
Ao longo das últimas quase três décadas os Mão Morta têm tido sempre uma palavra a dizer no rumo do rock em Portugal. Com uma discografia que soma mais de doze discos de originais (aos quais se juntam registos ao vivo ou compilações), a banda de Braga dividiu opiniões, criou alguns hinos geracionais e conta com um percurso onde não faltam episódios curiosos. Um deles decorreu mesmo antes da sua formação, quando Harry Crosby, músico dos nova-iorquinos Swans, considerou que Joaquim Pinto “tinha cara de baixista”. Esta opinião, partilhada em Berlim algures em 1984, após um concerto do grupo americano, serviu como incentivo para que Pinto se sentisse encorajado a aprender a tocar baixo e a integrar uma banda. E assim nasciam os Mão Morta.
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